11 setembro 2007

Eu e a saga desta doença - a descoberta e internamento

Não me parece que será algo de que me queira recordar, mas isto de registar as doenças já me deu jeito por várias vezes para fazer referência aos médicos, que a memória para isto, falha-me.
O que me pareciam ser sintomas de cansaço eram não mais do que sintomas desta doença que ainda não posso chamar pelo nome pois o diagnóstico é ainda indefinido. Neste momento a opinião médica pende mais para a tuberculose meningea, mas há semanas pendia mais para a sarcoidose.
Em Julho comecei a sentir um cansaço diferente, dormia mal e comecei a acordar ciclicamente entre as 4h e as 4h30 com fortes dores de cabeça, que regressavam perto das 10h da manhã.
Fui observada por um médico em casa que disse que a origem destas cefaleias teriam de ser detectadas e ser observada em neurologia. Entretanto deu-me um medicamento fortíssimo que reduziu as crises e eu " desleixei-me" e não marquei logo consulta. As crises começaram a ser cada vez maiores e mais fortes, passava o dia a vomitar, não conseguia sequer encostar a nuca à almofada com dores, vomitei quase 2 dias seguidos sem ter conseguido comer absolutamente nada nesses 2 dias inteiros. As visitas ao hospital eram infrutíferas. Lá me davam a medicação intravenosa para atenuar a dor mas não detectavam as origens. Entretanto piorei e o meu gajo marcou-me consulta para dia 20/8, no dia seguinte ao nosso regresso de férias.
Nas férias dia sim dia não, uma crise. As visitas ao centro de saúde resultaram num médico ofendido quase a chamar-me de espertinha e a relembrar-me de que ele é que era médico quando insinuei se não poderia ser meningite. Disse-me que se fosse meningite eu teria febres altas e não conseguia mexer o pescoço. Apetece-me ir falar com o senhor e mostrar-lhe os relatórios dos exames médicos.
Receitou-me vitamina B12 e supositórios de ibuprofeno para as dores.
Mais uma visita ao centro de saúde e mandam-me para o hospital porque não sabem o que me fazer ( palavras do médico ).
No hospital fazem um TAC e análises e não detectam nada. Venho sem diagnóstico com paracetamol, um medicamento ansíolitico e um outro para deixar de vomitar. Aproximava-se o fim das " férias " e a consulta com a neurologista.
Segunda-feira às 10 da manhã lá estava eu no hospital. Sou rapidamente atendida. Mostro os exames que tinha feito e vejo um nariz torcido ao relatório do TAC:
-" Isto agora é uma maravilha, o relatório foi feito por tele-medicina. Este TAC não diz nada ".
Conto o episódio no hospital em que perdi a fala, em que perdi a sensibilidade por 3 vezes, em que perdi um pouco a noção da realidade. Fica apreensiva com a perda da fala e leva-me de imeadiato à oftalmologia. Faço o exame e verificam que o fundo ocular de ambos os olhos está recheado de derrames. Diz-me que o meu globo ocular não está normal e que pode querer dizer que há uma pressão ocular por excesso de líquido cefalorraquidiano ( o líquido que " circunda " o cérebro ). Volto ao gabinete dela e faz o resto do exame físico aos reflexos. De seguida manda-me fazer uma Ressonância Magnética ao cérebro. Tive aí o meu primeiro contacto com uma crise de ansiedade.
Esperamos pelos resultados da R.M. e voltamos a falar com a médica. Pela R.M. detecta que uma das veias no cérebro tem metade da dimensão da outra. Deu o nome " técnico " que não fixei e que a tal doença era uma deficiência genética e as dores de cabeça eram causadas pela pressão sanguínea. Tem cura e o tratamento passa por medicação e emagrecimento pois não estando provado cientificamente, verifica-se que a doença ocorre com maior incidência em pessoas com excesso de peso. Caso o tratamento não resultasse teria de fazer um cateterismo ou uma operação que consistia em abrir um buraco na cabeça que iria " verter " o líquido encefalorraquidiano quando este estivesse em excesso. Quando ouvi esta hipótese as lágrimas vieram-me aos olhos.
Diz-me ainda que terá de me fazer " uma grande maldade ", a maior que ela tinha de fazer enquanto médica neurologista. Teria de fazer uma punção lombar a fim de medir a quantidade de líquido e analisá-lo. Concordo e é me feita a dita punção minutos depois. Não custou os horrores da segunda, aliás, foi perfeitamente suportável. Mede a quantidade de líquido que estava nos 39 quando o normal é situar-se entre os 20 e os 25. Saio do hospital às 19h com recomendações de repouso e com a indicação de que em 30% dos casos, tinha como efeito secundário dores de cabeça e vómitos que passavam quando adoptada a posição deitada.
Dois dias depois telefonam-me do hospital com o recado da médica de que tinham detectado uma infecção pelo líquido e que teria de ficar internada no próprio dia para fazer análises e nova punção lombar. Vou de ambulância pois nem levantar a cabeça da almofada conseguia com as dores de cabeça. Já no hospital sou colocada a soro, fazem colheita da urina 24h, mais recolha de sangue, TAC geral, nova ressonância magnética ao torax pois no TAC vislumbram algo duvidoso nos pulmões. Dizem-me que tenho uma infecção pulmonar e que o Timo tem dimensões anormais para a minha idade ( pois supostamente este orgão é maior em criança do que em adulto ). Pode significar que está infectado e por isso desconfiam de sarcoidose, uma doença crónica hereditária que se caracteriza por uma tendência anormal do organismo acumular células inflamatórias em muitos orgãos do corpo. Nas análises ao sangue detectam excesso de vitamina B12, erradamente receitada pelo médico do centro de saúde.
Saio no dia seguinte com 2 diagnósticos possíveis, tuberculose meningea ou sarcoidose meningea e com a confirmação de que não é contagioso pois tinha os pulmões limpos. Naquele momento era só o que eu queria ouvir. O medo de poder contaminar a minha filha era o único que me povoava. Sinceramente, não receei por mim. Estava esperançada.
Regressei a casa na quinta-feira e sexta recebo o maior abraço da minha filha, que esteve com os avós toda a semana em Torres Novas.

8 comentários:

Susie disse...

Esta autêntica saga fez-me mesmo lembrar um episódio do House. Não admira que estejas com ansiedade! Espero que tudo termine rapidamente e que possas finalmente começar um tratamento que te conduza à cura.

Beijinhos,

Loira disse...

Lúcia... nem sei oq dizer. Só q és mto corajosa :)!
Um beijinho enorme para ti e, já sabes, qq coisa que precises, se eu puder ajudar, usa e abusa!

carla disse...

Força querida, eu sei que a tens...mas desejar mais não faz mal...é que faltam-me a spalavras para esta tua saga!!1

Beijos

Lipa disse...

Meu Deus, é uma saga mesmo! :(
Olha pensa positivo, vais superar esta fase má brevemente. Estou certa que sim! Entretanto estou a torcer para que melhores rapido!
beijinhos

(obrigada pelo convite!!!)

. disse...

Estás a precisar de um Dr. House, li um artigo há dias e parece que há uns quantos cá muito bons que detectam o que mais ninguém detecta. Estou a torcer por ti, seja qual for o problema e que se resolva depressa. (a minha cachopa hoje está um bocado chocha mas quanto a mim não há perigo, eu tive com 13 ou 14 anos, obrigada pela preocupação!)

Beijo grande de melhoras!

Xana disse...

Amiga, confesso que embora me tenha apercebido um pouco do que se estáva passar, agora é que fiquei com a noção exacta (dentro do que é possível para uma leiga em medicina) da situação. Não deve estar a ser fácil para ti. Imagino que não! Dá para perceber a pessoa activa e determinada que és. Já há muito que te leio. Embora tenhas de abrandar na primeira característica, espero que uses a segunda e com a tua parte lutadora para passares esta fase. Vais ver que tudo vai acabar por se resolver! Estou aqui a torcer por ti. Qualquer coisa que precises e eu possa ajudar podes pedir!

Beijinhos

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

beijinhos, melhoras!

Fitinha Azul disse...

força, muita força e que passe depressa!
Beijocas grandes