Fico a pensar se eu não ganharia mais se enfrentasse a doença e as consequências com choro, queixinhas, cara fechada e algum teatrinho. Chego a pensar que há quem julgue que nunca estive muito mal e que não entendem o porquê de ainda estar de baixa. A cara alegre e o bom humor parece que não são compatíveis com uma doença de foro neurológico. Tive de explicar por A+B que a visão distorcida, desfocada e às vezes dupla, não ajuda para quem trabalha com números, para quem tem de analisar e comparar folhas e folhas cheias de números pequeninos e alternar a vista entre o monitor do pc e as folhas de papel, fazer contas, rácios e claro, não errar, porque basta um número mal digitado para encrencar tudo. Tive de explicar que estar mais de 2 horas seguidas em frente ao computador ainda é uma miragem, quanto mais 8, nem falei nas dores nas costas.Tive de explicar que apesar de estar há quase 2 meses em casa, não deixei de trabalhar como trabalhadora independente, ainda que a um ritmo muito inferior, imposto por estas mesmas consequências. Tive de o explicar a quem o deveria saber à partida.
Eu devia aprender a ser mais queixinhas, ou não me serve de nada esta minha maniazinha de me " meter à valente ", mas não consigo ser de outra forma, eu só me queixo quando as dores ou o incómodo é insuportável e o meu conceito de insuportável é indubitavelmente alargado.
Não quero com isto que digam que sou ou fui muito corajosa, que passei por muito e tal porque eu sei melhor que ninguém pelo que passei, mas também não quero que ponham em causa se isto me fez ou não mossa. Eu sou assim, eu não gosto de me queixar, não ganho nada com isso mas sou assim e pronto.
A cada punção me perguntavam se doía muito. Sempre disse que doía, nunca disse que doía muito, porque para mim, o conceito de doer muito é o mesmo que dizer que as dores foram tantas que me fizeram chorar de desespero, sentir que já não aguentava mais, entrar em colapso nervoso, perder o controlo e isso nunca me aconteceu e portanto, não sou capaz de dizer que dói muito. Digo sempre, custa, mas aguenta-se,mas também disse que preferia passar por outro parto como o da minha filha, depois de 10 horas de dores contínuas sem anestésicos do que fazer outra punção ou voltar a ter as horríveis dores de cabeça que já tive. Pelo menos o motivo das dores era um bom motivo.
Quando a questão é posta por alguém que uma constipação leva à cama, irrita-me ainda mais, entristece-me.
Conseguiram enfurecer-me, afastar-me da calma e tranquilidade com que andava. Tiraram-me do sério.