12 novembro 2008

Reflexões

Actualmente falam-se de alguns casos de tuberculose no Norte do país. São entrevistadas algumas das pessoas que fazem a profilaxia da tuberculose mesmo não tendo prova de tuberculose activa. Falam da discriminação de que são alvo por viveram em pequenas aldeias onde as pessoas desconhecem quer as formas de transmissão, quer a doença em si.
Já passei pelo caso e felizmente, como não estava a ser tratada num hospital público, não tive de fazer a medicação presencial, isto é, a dirigir-me diariamente ao hospital para tomar os medicamentos com uma enfermeira junto para se certificar que o fazia ( que nos hospitais públicos é obrigatório ). Fazia a minha medicação em casa sem ter de enfrentar o estigma de entrar num serviço de infecto-contagiosos qualquer.
Ainda assim, e vivendo numa grande cidade, quando me perguntavam a causa da minha doença, enfrentava não um mas dois estigmas, o de ter uma meningite e o de ser eventualmente derivada do bacilo da tuberculose. Aprendi a proteger-me perante quem não tinha conhecimentos para lidar com o meu diagnóstico e deixei de dizer o que tinha, ou dizia que ainda não tinham descoberto ( que não era mentira nenhuma ) e que desconfiavam de uma doença genética ( que também não era mentira para o diagnóstico de sarcoidose ). Deixei de chocar os outros e deixei de sofrer o estigma de ver que as pessoas não me olhavam nos olhos, ou falavam comigo afastadas não fosse eu tossir ou coisa do género ( ainda que eu não tivesse nenhuma inflamação no aparelho respiratório e portanto, mesmo que fosse tuberculose não seria transmissível ). Porque infelizmente, vi muitas pessoas curiosas em saber o que tinha, mas muito poucas efectivamente preocupadas comigo.
Esta foi uma das lições de vida que este último ano e meio me trouxe, tenho muitos conhecidos, muitos " curiosos " mas muito poucos amigos. Felizmente não me trouxe mossa, era a atitude que no fundo esperava de muitos, pelo contrário, percebi quem realmente se preocupava comigo e muitas vezes estas foram as surpresas positivas, perceber em quem não esperava amizades genuínas.

1 comentário:

Loira disse...

Pois, Lúcia. Infelizmente, o desconhecimento das pessoas leva a situações muito tristes. E, por vezes, esse desconhecimento vem de pessoas q nós achamos q era suposto compreenderem.
A minha cunhada tb tem uma doença desconhecida e já há mais de 10 anos. No caso dela, reflecte-se na pele. Fica com feridas, crostas, em todo o corpo, especialmente na cara. Chega a ter a cara quase toda assim. Ela já foi a todos os médicos possíveis e imaginários. Fez todos os exames. Na realidade, só sabem uma coisa. Aquilo não é contagioso e estará a ser provocado por algo que ela tem, mas q não se descobre o que é. Enfim, como deves calcular ela tem sofrido mto na pele essa discriminação de q falas.
Agora, dou-te outro exemplo: uma amiga minha, professora de CIÊNCIAS, qd eu lhe disse q uma das escolas em q tinha inscrito o meu filho era uma IPSS, perguntou-me se eu estava preparada e se não tinha medo q ele convivesse com crianças com HIV e Hepatite. Fiquei chocada, a sério. 1º, expliquei-lhe q em todas as creches q tinha inscrito o meu filho pediam um atestado para doenças infecto-contagiosas. Despois, tive mesmo de ser um pouco mais brusca e explicar-lhe q o HIV não se pegava assim e q, pelo menos, para a Hepatite B todas as crianças são agora obrigatoriamente vacinadas. Só sei uma coisa, tenho um caso próximo de uma pessoa com HIV (há mais de 16 anos) que nunca quis q ninguém soubesse exactamente pelo medo de ser discriminado.