20 novembro 2008

As minhas manhãs até à entrada na escola

De manhã tinha sono, não queria acordar, a minha mãe destapava-me eu tapava-me outra vez:
- Despacha-te Lúcia, acorda. É sempre a mesma coisa à noite não queres adormecer, de manhã tens sono.
Começava a birra e era arrancada da cama. Vestir também era acompanhado de choro. Azul não combinava com vermelho, vermelho e verde impensável, mesmo que fosse xadrez, amarela de forma alguma com combinação nenhuma( e ainda hoje não gosto muito de amarelo ). Fazenda pica, camisolas de malha picam. Tira, pica, pica, picaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Aqui já tinha levado pelo menos uma palmada e eu ficava cada vez mais furiosa com o facto.
Não me queria pentear e a ter mesmo de ser só com uma determinada escova que até era de enrrolar. Por isso antes de entrar para a primária levei um corte à rapazinho.
Para beber o leite ou comer o nestum ou os corn flakes não havia birra.
Lavar a cara também não era tarefa agradável e tinha de ser eu a lavar. E como o fazia. Apenas molhava os indicadores e passava nos olhos. Seguia-se a mão da minha mãe a pingar água e a molhar-me a cara toda. Chorava de seguida.
Entretanto já teria levado outra palmada que não deviam ser palmadas que doessem pois eu todos os dias insistia no mesmo e nem depois de 300 avisos de que ia " apanhar " deixava de o fazer. Eram pelo menos 3 palmadas pela manhã. Na altura a minha mãe desabafava com outras mães e até se falava abertamente de dar palmadas aos filhos, aliás, as pessoas achavam que ela não me batia suficientemente para este meu comportamento repetitivo. Muito eu e ela ouvimos o : Se fosses minha filha...
Depois vinha a puxar por mim ou comigo ao colo a correr de saltos altos pelas ruas de terra, no inverno enlameadas, até à paragem da camioneta que ficava a uns bons 300mts. Eu vinha de " burro amarrado " e não queria andar e enquanto ela me puxava para a frente eu fazia resistência e puxava para trás. Nos dias de chuva vinha feliz com as galochas e com a capa impermeável e o chapéu de chuva. Tinha de vir pelo meu pé, a pisar as poças todas ( que não eram poucas ) e a apreciar o chapéu de chuva que geralmente era trazido da África do Sul, onde já havia uma grande variedade de bonecada. A minha mãe vinha com o chapéu dela meio de lado, para me segurar no braço ou no chapéu. Despacha-te Lúcia, vamos perder a camioneta, vou chegar atrasada.
Às tantas pegava-me ao colo para ser mais depressa, sujava-se com a lama das minhas botas, ficava descoberta do chapéu dela porque não conseguia carregar-me ao colo, carregar a mala dela, mais o chapéu dela e o meu, que ia aberto e volta e meia a picar-lhe a cabeça. Não me lembro do que a minha mãe dizia, mas resmungava muito no caminho até à camioneta. Depois na camioneta eu vinha feliz, a ver o caminho e a minha mãe com um ar de final do dia, e não de princípio de manhã. Deixava-me na minha avó e eu nunca queria que se fosse embora e por vezes chorava a vê-la desaparecer na esquina do prédio, da janela da casa da minha avó.
As manhãs dela não seriam muito mais fáceis que as minhas mas é mais difícil ver os nossos defeitos espelhados nos nossos filhos.

Adenda - De notar que a minha mãe trabalhava num escritório, num sector que ainda hoje é essencialmente " masculino " , mas que na altura era 99% masculino. Os atrasos dela mesmo que de 10 minutos era chamados à atenção e só pela sua competência profissional não era olhada com desdém, do tipo, é mulher, deveria estar em casa.
Lembro-me que de inverno ela usava uma gabardina que provavelmente limparia antes de chegar ao emprego, assim como os saltos dos sapatos que iriam cheios de lama.

4 comentários:

Loira disse...

LOL Quem sai aos cedos não degenera. Lembro-me q me custava acordar de manhã para ir para a escola. Mas de resto n fazia birras pq adorava ir. Já o meu irmão mais novo :s... nem te conto. Por vezes, lembro-me q chegava a carrinha da escola e ele estava deitado no chão aos gritos :S.

Loira disse...

(ah e tb nunca se queria vestir, mto menos tomar o pequeno almoço. A minha mãe muitas vezes vestia-o a dormir :D)

Lúcia disse...

Ela adora a escola mas detesta acordar. Já eu não andava na escola não queria sair de casa. Depois de entrar para a escola primária as birras de manhã acabaram :)

Unknown disse...

Eu tive a sorte de ter a minha em casa até aos meus 10 anos!!

Lúcia, ela tem bem a quem sair!!!

No meu casao as unicas fitas eram por causa do PA!! nunca queria comer!