14 novembro 2007

A propósito da (super)protecção

Às vezes temos conversas que nos ficam retidas na memória, que nos marcam e nos fazem pensar. Uma dessas conversas foi tida com a minha tia que ficou com a Beatriz até aos 14 meses.
Tinha a Beatriz 8 meses e estavamos afastadas durante o dia há apenas 2. Ainda não me tinha adaptado a estar longe dela quando a minha tia tem uma conversa comigo muito proveitosa.
Pediu-me para passar um fim de semana prolongado com a Beatriz no Algarve. Eu não queria aceitar porque só a frase me fez tremer por dentro de me pensar longe dela. Conversei abertamente sobre o que sentia e tive uma das mais proveitosas conversas acerca do tema maternidade.
Aceitando a minha decisão alertou-me que ela era pequenina sim, mas que lhe faria muito bem conviver com diferentes realidades, diferentes pessoas, mudar as rotinas e mudar de espaço físico. Aprenderia ela a confiar nos outros que lhe querem bem e aprenderiamos nós também enquanto pais, a confiar. Disse-me que nos fazia bem porque dormiriamos melhor ( e como ela dormia mal na altura) e namorariamos mais. Disse-nos que nesses momentos em que não estivessemos com a nossa filha deveriamos também nós mudar as rotinas e aproveitar para ir a um cinema, jantar fora ou pura e simplesmente descansar em frente do televisor.
Alertou-me para que um dia eu iria querer quem me ficasse com ela nem que fosse por uma noite e se ela não estivesse habituada não iria querer ficar ou pior, ninguém se iria oferecer para isso pois temeriam que eu negasse.

- Primeiro custa-te mas depois vais ver que te sabe bem. Se ela estiver bem e feliz, tu também estás não é?
Eu da tua prima não a deixava ir com ninguém, chegou a uma altura em que eu queria e ninguém se oferecia para ficar com ela. Aprendi e com o teu primo já não foi assim.

Pensei no assunto e como não podia tirar férias acedemos a que fosse com a minha tia. Fomos também nós durante o fim de semana, regressamos Domingo e ela regressou na quarta-feira.
Chorei baba e ranho, sentia uma dor no peito e disse que nunca mais a deixaria longe de mim. Aprendi que nunca digas nunca é uma afirmação mais que verdadeira.
Depois disso, de vez em quando fica a dormir em casa da avó pois sempre que lá vai quer lá ficar. Habituei-me a estar algumas noites sem ela e a satisfação que ela tinha em ficar compensava-me a sua falta física.
Passou muito tempo até que nas férias me deparei com um problema, a escola iria fechar durante todo o mês de Agosto, nós já tinhamos as nossas férias marcadas ( e algumas gozadas ) quando soubemos e tinhamos um periodo de 15 dias sem saber onde a deixar.
A minha sogra conseguiu marcar férias para esse período e disponibilizou-se a vir para cá uma semana tomar conta dela e na outra iria ela para lá.
Ia custar-me muito estar aqueles 5 dias úteis sem ela mas não tinha alternativa.
Entretanto adoeci e no período em que estive internada e pior felizmente a Beatriz estava em casa dos avós.
Custou-me estar sem ela numa fase debilitada em que precisava mais que nunca dos seus mimos mas para ela foi melhor não me ver como estive. Ainda assim, sempre que me via vomitar e deitada choramingava.
Os dias passaram, ela regressou com saudades e nós também.
Agora a minha cunhada entrou de férias e pediu-nos para que a Beatriz fosse passar 4 dias com ela. Acedi na altura porque sei que é bem tratada, porque sei que gosta de lá estar, porque sei que só assim pode conviver mais intensamente com os restantes familiares e amigos de lá.
Sempre que me pedem para que a Beatriz fique longe de nós me relembro da conversa sábia com a minha tia e hoje dou-lhe razão.
Muitas vezes, o melhor para eles não é o melhor para nós, mas se eles estiverem bem e felizes, nós também estamos.

7 comentários:

Mamã da Bruna e do Rafael disse...

Compreendo perfeitamente o q sentes! A Bruna dormiu afastada de mim apenas 2 noites e nem sequer foram seguidas! Custa muito, mas estas situações criam-lhe experiências e emoções novas, elas crescem e nós tb :)!

Custa, mas há q lhes dar asas!

Beijocas

Susie disse...

Subscrevo a 100% as tuas palavras.

O Príncipe Duarte disse...

Concordo com o que dizes... mas para mim ainda nao chegou o "momento" de o deixar... ou talvez ate tenha chegado só que nao tenho a sorte de ter alguem em quem confio para ficar com ele ( a minha mae nao tem saude para isso e os meus sogros para mim são "cartas fora do baralho"... Por isso temo que esse momento ainda esteja mto longe mesmo...


Ah mas outro dia fui fazer a depilação e ele ficou meia hora com a minha irmã... Já conta, não?

Fora as brincadeiras, concordo com o teu post!

bjs

alice+duarte

Mamã artesã disse...

Também acho que a tua tia tem razão mas a única pessoa com quem o consigo deixar é mesmo com a ama. Por incrível que pareça, é a única pessoa em quem tenho plena confiança e que já conhece todas as suas manhas.
De vez em quando a minha sogra diz-lhe: "Qualquer dia vais dormir com a avó" ou então "Queres ir dormir com a avó?". Eu só penso: "Vai sonhando, vai...". Não digo que um dia ele não vá lá ficar mas, por enquanto, não me consigo separar dele nem por nada.
Ainda hoje cheguei ao escritório com quase meia hora de atraso porque ele estava muito choroso e não me queria largar.
Amanhã, como a ama vai com a filha ao médico, ele vai ficar com a minha irmã. Mas não vou ficar descansada e acho que lhe vou ligar de 5/5 minutos.
Não há ninguém como a ama.
Joquinhas
Sofia

Ana Rute Oliveira Cavaco disse...

recordo-me que a Maria só dormiu a primeira vez fora já eu estava grávida da Marta. nunca me tinha separado dela.
com o segundo filho tudo muda e agora com o terceiro então é que vejo que temos mesmo de abrir mão e deixá-los ir.

isso e no caso de uma doença como tu tiveste. de repente deixamos mesmo de ter controlo sobre as coisas e lá vão eles.

faz-lhes bem, também. mas ainda não tive a experiência de me separar da Marta mais do que uma noite, com a Maria a primeira dose de afastamento a sério foram 4 dias quando a Marta esteve internada.

Miúda disse...

Tenho que ler isto com calma.
A ver se mando para o mail que tenho mesmo que pensar e amadurecer esta ideia agora com o 2º!

Sara CS disse...

Ainda não sei o que isso é..., a Joana nunca ficou fora. Para já não sinto necessidade disso, talvez daqui a uns tempos. (sim, sou galinha! :P)