19 julho 2005

Relato do parto

Tal como prometido hoje venho aqui relatar a minha experiência daquele que foi o meu primeiro parto, o parto da minha bébé Beatriz.
O dia foi marcado na última consulta pré-natal, dia 4/7 deveria estar no Hospital Cuf Descobertas por volta das 7.30 da manhã.Assim foi, mais ou menos à hora marcada lá nos apresentamos, eu o Nuno e a minha mãe que me levou para o hospital. Depois de feita a admissão no balcão central ( porque não entrei pelas urgências por ser parto induzido )subi com um auxiliar até ao 2º andar. Quando lá cheguei, já a minha médica me esperava,( a primeira das grávidas a chegar para indução ) entreguei o meu livro de grávida, as minhas últimas análises e disse qual o nome da Bébé. Depois fui encaminhada para um quarto por uma auxiliar que me disse se queria escolher algum em especial, visto eu ser a primeira desse dia. Disse que queria um virado para o rio... e ela disse, não há, já não vimos o rio :). Então pode ser qualquer um disse eu. Fiquei logo no primeiro ( quarto 2.01 ). Deram-me uma bata para vestir e mandaram-me tirar toda a roupa. Passado pouco tempo veio uma enfermeira que me colocou a soro e com outra substância qualquer noutro frasco que penso ter sido a ocitocina e colocaram-me o ctg. Seguiu-se a minha médica que me fez o primeiro toque e colocou gel no colo do útero. "Arrancou-me" com o primeiro toque um dedo de dilatação. As contracções existiam mas segundo a minha médica ainda fracas. Pouco tempo de pois vomitei... segundo a minha médica a algumas pessoas o gel faz essa reacção. Tiveram de me mudar a bata que depois apenas ficou vestida num dos braços por causa do soro, mudaram-me a cama e lá continuei. Parecia estar sempre com vontade de fazer xixi mas a principio não conseguia fazer. Chamei as enfermeiras e auxiliares imensas vezes para pedir a arrastadeira e depois de várias tentativa lá comecei a fazer. Fiz imensas vezes pois no total deram-me perto de 6 ou 7 garrafas de soro fora a outra substância.
Perto das 11 horas veio o anestesista mas apenas para me colocar o cateter, nada de epidural porque iria parar o processo.
Perdi a noção do tempo, seguiram-se imensos toques tanto pela médica como pela enfermeira parteira e a cada toque pressionavam o rabo da Beatriz para que ela descesse pois a marota decidiu subir na última semana de gestação. A minha médica dizia que ela estava melhor colocada e o colo estava mais preparado na última consulta que naquele dia. Foram aumentando as doses de soro e da outra substância. As contracções eram mais que muitas, parecia que não chegavam a desaparecer e o mais estranho é que começavam na barriga e estendiam-se pelas pernas até aos joelhos. Houve uma altura em que a médica disse, estas contracções estão boas ( diga-se fortes ) mas não estás a fazer a dilatação. Deves ter a bacia estreita e ela está "encravada" na bacia. De cada vez que a minha médica me visitava ou a enfermeira mais um toque ( que doeram mais que muito ). Numa dessas vezes a minha médica rebentou-me as águas para acelerar o processo mas eu só tinha 2 dedos de diltação após várias horas. Comecei a ficar impaciente, só queria que tudo terminasse. Fechava os olhos quando as dores eram mais fortes e só queria agarrar na mão do meu Nuno que não me largou um minuto. Quase desesperei de dor, de impaciência, de tudo.
As horas passavam nada de evoluções na dilatação. Eu pedia a epidural porque já não aguentava mais dores, mas não podia porque não tinha dilatação suficiente, tinha de aguentar.
Perto das 18 horas ( já 11 horas depois ) veio a enfermeira parteira com anestésicos que colocou na ligação ao cateter mas não foi epidural, apenas anestésicos. As dores abrandaram e aí consegui relaxar um pouco. A enfermeira disse que o efeito passaria cerca de 2 horas depois e passado esse tempo ela voltaria para me dar novamente se necessário. Entretanto a minha médica foi fazer uma cesariana. Quando as dores acalmaram comecei a ouvir o zumzum do corredor e apercebi-me que já imensos bébés tinham nascido e eu que tinha sido a primeira a chegar ainda ali estava. As contracções diminuiram de intensidade e quando a minha médica me foi ver, perto das 19.30 disse que iria marcar cesariana. Contudo ainda me quis observar mais uma vez mesmo depois de ter marcado a cesariana. Foi-me perguntando o que sentia e disse que sentia mais pressão sobre a vagina e o anús. Disse-lhe para chamar a enfermeira porque estava a passar o efeito dos analgésicos e queria a epidural.Eram já perto das 20.00 e o Nuno tinha descido por breves minutos para comer qualquer coisa. Eu estava deitada de lado na cama quando ela me disse para me virar de barriga para cima para o último toque. Quando me virei não conseguia assentar o rabo na cama. Disse-lhe isso mesmo e quando ela olhou já via os cabelitos da Beatriz. Voltei a falar na epidural e ela disse, a epidural agra é teres a tua filha nos teus braços. Entretanto o Nuno chegou e ela disse para a minha tia, estava a ver que a pimpolha nascia sem o pai presente :). Chamou a enfermeira e foi me dizendo para fazer força sempre que viessem as dores.Lá fui para o bloco de partos a fazer força pelo caminho. Quando lá cheguei mudei da cama para a maca e depois foi tudo muito rápido. O Nuno foi vestir a bata e quando chegou ao pé de mim fez-me uma festa na cara. Só me apercebi que ele estava novamente comigo porque reconheci o toque e olhei para ele nesse mesmo momento.
Às 20.04 estava a Beatriz cá fora a chorar. Não precisou de palmada, chorou assim que saiu. Não foram precisos muitos puxões para que ela saisse, talvez por ser pequenita, a expulsão custou menos que a dilatação. Foi-me feita a episiotomia e assim que saiu a cabecita da Beatriz a médica cortou-lhe o cordão pois estava enrolado ao pescoço, apesar de estar largo. O Nuno esteve sempre ali a fazer-me festas mas sem falar. Só quando a Beatriz nasceu nos beijámos e deu-me os parabéns, disse que eu tinha sido muito forte e me tinha portado muito bem, estava muito orgulhoso de mim.
Colocaram a minha filha sobre o meu peito e mal lhe vi a cara foi logo levada. A sala estava muito fria e disseram que ma iam levar para a aquecer.
Chorei e chorei, de alegria, de alivio de felicidade, não sei.
Entretanto continuava a ouvi-la chorar, em tom de brincadeira disse: tem uns belos pulmões :).
A minha médica disse ao Nuno para ir com a Beatriz mas eu não quis, queria tê-lo ali comigo e ele ficou. Fui cozida com imensos pontos, nem sei quantos e o "bordado" custou a ser feito. Disseram que eu tinha hipersensibilidade no períneo e por isso estava a custar mais. No final a minha médica que é amiga há vários anos da família abraçou-se a mim e chorámos as duas.
Quando acabaram de me cozer disse ao Nuno para ir ver a nossa bébé e ele foi. Fiquei ali mais um tempo para me desinfectarem. Depois mudei para a minha cama, entretanto feita de lavado e fui para a sala de recobro. Cruzei-me com a minha família no corredor e chorei mais uma vez.
Fiquei por uns tempos sozinha na sala de recobro e só tinha vontade de chorar, foram emoções demais por um só dia. Pensava na minha filha, em como a minha vida iria mudar, na minha mãe, no Nuno e em todas as mães. O momento do parto é uma acto de coragem e de amor e nesse momento pensei, como é que alguém depois disto consegue abandonar um filho. Entretanto chegou a minha bébé e o Nuno e eu estivemos ali a namorar os três :). O Nuno saiu porque a minha mãe queria entrar e depois seguiu-se a minha tia, a minha sogra, o meu irmão,a minha sobrinha e o meu sogro. Fizeram-me o penso e colocaram gelo na costura.
Passadas mais ou menos duas horas fui para o meu quarto. Ainda fui visitada pela minha mãe, pelos meus sogros e pelo padrinho da Beatriz. Tiraram-se umas fotos, deram-me um pacote de leite e umas bolachas maria para comer e lá ficámos os três.
Sangrei imenso toda a noite e no dia seguinte. Continuei a soro até ás 11h do dia seguinte com as enfermeiras preocupadas porque o meu útero estava muito subido e segundo uma delas, estava machucado por terem insistido em parto normal. Só me pude levantar perto do meio dia para tomar banho com uma enfermeira comigo na casa de banho. Disse para não lavar a cabeça e assim fiz.Continuava a sangrar muito, deram-me uma injecção para que o útero descesse e passado pouco tempo assim começou a acontecer. Confesso que não estava preocupada com o facto, já nada mais interessava apesar de ter ficado toda a noite de barriga para cima e de a Beatriz ter estado 4 horas acordada a olhar o que a rodeava. Não consegui dormir na noite em que ela nasceu fruto da excitação, de a minha filha estar acordada e também porque toda a noite as enfermeiras iam entrando pelo quarto dentro a mudar o soro, a mudar-me o penso, a dar-me gelo ou algo do género. Fui algaliada e o xixi era sangue, só mesmo sangue. Via preocupação na cara das enfermeiras mas eu parecia não me importar, estava tranquila.
No dia seguinte a urina estava já mais clara mas ainda com muito sangue. Continuei a soro até que estivesse mais normal.
Deram-me o pequeno almoço e 2 comprimidos para as dores( Benuron )que continuei a tomar mesmo no regresso a casa. Não consegui descansar nada enquanto estive no hospital, ora porque vinham os médicos e enfermeiras ver como estava, ora porque tinha as visitas e durante a 2ª noite a Beatriz esteve inconsolável com cólicas. Por duas vezes veio a enfermeira para lhe massajar a barriga e "ajudá-la" a fazer cócó. Só tranquilizou quando lhe deram um biberon de suplemento para comer.
No dia 6 levantamo-nos perto das 8 e fui com a Beatriz para assistir ao primeiro banho. Digo assistir e não para lhe dar porque não fui eu que lhe dei banho, a enfermeira é que o fez ( não sei bem porquê )e eu apenas assisti atenta às suas instruções. O seu primeiro banho foi dado num alguidar pequeno, vejam bem como a minha filhota é pequenita. Foi vista pelo pediatra que me disse que estava tudo bem com ela e que iria ter alta. Foi pesada e à saída do hospital tinha 2460 gramas, 180 gramas a menos que à nascença.
Fui para o quarto aguardar a vinda da minha médica que me observou e também me deu alta. Saímos do hospital perto do meio dia, dois dias e meio depois de termos lá entrado... parecia que já lá estava à uma eternidade, só queria voltar para casa.
Fiquei um pouco raumatizada com o parto, não estava à espera que fosse assim, tanto tempo, tantas dores e sem epidural. Pensei não aguentar, não ter mais forças para a colocar no mundo mas consegui. Fiquei um pouco traumatizada nos primeiros dias do pós-parto e ainda estou um pouco, apesar de menos. Se antes pensava ter 2 filhos, agora já não sei... também ainda é muito cedo e a dar um irmão ou irmã à Beatriz não penso fazê-lo antes de a minha menina ter 4 ou 5 aninhos.
Foi assim a minha experiência; muitas mais coisas se passaram pela minha cabeça naquelas horas infindáveis mas tudo passa, já passou e o importante é que quando olhei para a Beatriz pensei, como é que fomos capazes de formar uma menina tão perfeita, tão bonita.
Beijinhos

7 comentários:

Anónimo disse...

Ola
O meu parto tb foi complicado (18 horas)o meu filho teve que ficar internado 1 semana na neo-natologia eu sofri muito e na altura eu só dizia que não me apanhavam noutra, nem pensar...as enfermeiras riam-se e diziam-me que isso é o que ouvem todos os dias e passado uns tempos estão lá todas outra vez. Hoje passados 15 meses dou-lhes razão ...já penso em dar uma irmãzinha ao meu pequenito. Vais ver que tambem te acontece o mesmo, os nossos filhos fazem-nos esquecer todos os maus momentos porque as alegrias são muito maiores que o sofrimento. Tudo de bom para voces. Jinhos grandes.

Anónimo disse...

As lágrimas são muito fáceis nesta altura, não é????
Jinhos e já passou

Anónimo disse...

Olha, eu levei duas doses de epidural da primeira vez e não me fez nenhum feito, de tal modo que da segunda vez avisei logo que não queria! Da primeira vez também disse que não queria mais nenhum e agora aqui está o segundo. A vantagem é que quando vais para o parto já sabes o que te espera.
Parabéns!

Anónimo disse...

Eu ainda não estou grávida e com o teu lrelato já me pus para aqui a chorar...imagino quando for eu, devo chorar mais que a madalena arrependida. Beijoka e desfruta bem os momentos com a tua linda.

AnaBond disse...

Realmente há partos complicados... e acho que são mais os complicados que os fáceis.

Mas no fundo o que interessa é teres a tua menina perto de ti, saudável e bem disposta... o resto passa tudo.

beijos

Anónimo disse...

Emocionei me aler este relato do parto! Cheguei a chorar..........Força e Parabéns!!!!

Anónimo disse...

Confesso que fiquei de lágrima no olho, como já tinha ficado quando li o que o teu marido escreveu na altura do parto. Passamos por cada coisa...o meu parto tb foi complicado mas não demorou tanto tempo como e teu, e eu tive sorte de me darem a bendita da epidural.
Eu tb disse que nunca mais me metia noutra e as enfºs só se riam. Mas depois de sentir a minha filha em cima de mim "esqueci" tudo e despedi-me delas com um "até à próxima".
Bjs e parabéns pelo marido que tens, olha que nem todos aguentam firmes ao nosso lado, o meu tb aguentou e foi o que me valeu.
Ana&Carolina