Não concordo que se tentem moldar pessoas à nossa imagem e semelhança, não acho sensatos os casamentos feitos na esperança que a outra parte mude nos seus valores fulcrais ou atitudes. As pessoas são como são e ou se toleram as diferenças e se aceitam ou não vale a pena pensar mais nisso. Isto vale para o amor e para a amizade, para as relações familiares, para todo o tipo de relações com outros seres humanos. Eu penso assim e se as diferenças entre mim e o outro ser humano são aberrantemente notórias e que chocam com os meus valores essenciais, então não vale a pena insisitir numa relação com a outra parte. As pessoas tem de mudar por si e não pelos outros. Não temos de ser amigos de todas as pessoas que conhecemos ( o que não quer dizer que não sendo amigo é inimigo, felizmente não considero ninguém assim ).
Mas há coisas que ao longo da vida, os anos, a experiência ou a falta de paciência nos fazem mudar. Mudamos nas coisas mais básicas, mas as essenciais, as que nos fazem defender princípios tão importantes como a vida e a dignidade vamo-nos mantendo fiéis. Por exemplo, deixamos de fazer uma algazarra porque aquele senhor está a tentar meter o carrinho dela à frente do nosso, como se estivesse distraído com a fila enorme formada " atrás dele ", ou então, se não eramos de fazer algazarra passamos a fazer. Dizem-me que isto é consequência dos 30 ( que no meu caso ainda não chegaram em termos de idade física ). Eu acho que são consequências de situações bem mais graves, que essas sim, merecem que percamos a paciência de vez em quando.
Com a maternidade houve tanto em mim que mudou que descrevê-lo daria não um, mas vários posts em constante actualização. Ganhei um pouco mais de tolerância com os outros, passei a valorizar e a sentir-me ainda mais próxima da minha mãe e por outro deixei de desculpar as atitutes dos maus pais, como o meu.
Se por um lado descobri um amor incomensurável, por outro repesei todos os outros amores que cabem no meu coração e que em comparação com aquele amor, eram infinitamente mais pequenos. Durante uns tempos esta problemática causou-me alguma tristeza, como se tivesse deixado de gostar tanto dos outros. Até que percebi que o amor pelos outros não mudou, mas o coração fica tão preenchido que não consegue às vezes dosear-se a si próprio, porque o coração não é racional.
Aprendi a amar o que tenho de mais importante na vida e tive de aprender a deixar que esse amor não lhe cortasse as asas, nem nos ofegasse. Perceber que somos dois seres ligados para sempre mas diferentes entre si, que precisam de tempo para si e para os outros foi outra lição difícil de aceitar.
Foram tantas as alterações da maternidade que sem dúvida me olho ao espelho e a tranquilidade que vejo no meu rosto é espelho disso mesmo. Sinto que em 2 anos amadureci muitos mais. Mudei, para melhor numas coisas, para pior noutras, como em tudo na vida.
A última " mudança " em mim deu-se há pouco tempo, descobri o prazer da pintura, sem qualquer pretensão de fazer obras de arte. Também há pouco tempo, descobri o da leitura ( que eu era uma leitora muito pouco frequente de livros ). Hoje por exemplo fui à FNAC e não digo o que gastei em livros nem digo o quanto gastaria se tivesse trazido tudo o que me deu vontade.
Se eu tivesse uma máquina do tempo e recuasse uns 5 anos, não diria mais, e se me dissessem com eu seria hoje talvez duvidasse, talvez dissesse que eu nunca iria deixar que o senhor do carrinho de compras me tentasse passar à frente sem ouvir das boas [ que deixá-lo passar a frente ( ainda ) não deixo ], talvez dissesse que nunca aceitaria que um filho meu tentasse bater, que nunca toleraria uma birra em público ou que filho meu comeria o que está no prato sem direito a discussão. Talvez dissesse que eu nunca na vida agarraria num pincel e poucos ou nenhuns seriam os livros de mais de 100 páginas que eu iria conseguir ler até ao fim.
E ainda dizem que as pessoas não mudam, mudam sim, todos os dias um bocadinho.
5 comentários:
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Beijinhos e bom fim de semana
Claro que mudamos um pouco todos os dias. Podemos não nos dar conta disso, mas que acontece... acontece.
Desde que fui mãe que a minha tristeza por não ter uma família"como deve de ser" se tem vindo a acentuar cada vez mais. Gostava de ter uma família com quem pudesse contar, com quem pudesse desabafar, com quem me pudesse juntar nas festas... Mas isso é impossível pois a minha família não é normal.
Antes sentia-me triste mas não dava tanto valor.
Agora levo o tempo a dar miminhos ao meu filhote e, de vez em qaundo, lá vem uma lágrima teimosa por me lembrar que não tive nem um tiquinho dos miminhos e atenção que lhe dou.
Mas, infelismente, não podemos escolher a família que temos e lá vou vivendo com a que me calhou na rifa.
Joquinhas gandes
Sofia
Já cheguei :)
Assim que possa dou uma espreitadela mais atenta a este teu mundo.
Obrigada pela partilha!
Beijocas!
:)
Beijocas
Depois de leres esses, emprestas? É que é só assim que consigo ler,quando tenho um prazo para entregar o livro :)
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