19 setembro 2007

Eu e a saga desta doença - pós internamento

Os 8 dias após a saída do hospital foram passados sempre na cama, deitada, sem conseguir sequer elevar a cabeça com as dores fortíssimas de cabeça e de costas, consequência da punção lombar. Não havia analgésico que as parasse. Felizmente que as dores de cabeça só aconteciam quando elevava a cabeça. As primeiras 48h foram de repouso absoluto e só me levantei para ir à casa de banho, amparada por 1 ou 2 pessoas. As tonturas, as dores e a má disposição eram horríveis e o tempo sentada na sanita era o mínimo indispensável. Até uma arrastadeira usei para fazer os xixis e evitar levantar-me. O " banho" foi-me dado pela minha sogra, em estilo de limpeza dos acamados, com uma toalha e uma bacia de água tépida. O cabelo foi " limpo " com um champô seco nessas 48h. O primeiro banho pós punção, apesar de desconfortável por não conseguir estar em pé sem as dores, soube-me como um tratamento de SPA.
Estive totalmente dependente dos outros esses 8 dias, para me fazerem o comer, dar-me água, lavarem-me, etc, etc. Custou-me imenso querer pegar na minha filha e não poder, deixar de lhe dar banho, escolher-lhe a roupa, ser eu a tratar dela. Ela pedia-me colo e eu tinha de lho recusar, dizia-lhe que estava doente. Todos os dias, quando queria mimos me perguntava antes:
- Mãe, tens dói-dói? Tás doente? Já paxou? Tens toxe? Tá quaje, mãe, tá?
Senti-me menos mãe. Em contrapartida, nunca ela me deu tantos abraços, nem tantos beijos e tanto mimo.
Durante esses 8 dias tive de ir a uma outra consulta de oftalmologia para fazer um teste e verificar a perda de visão que tinha ocorrido. Enquanto esperei pela consulta estive sempre deitada numa maca. Esperavam que eu tivesse perdido metade da visão de cada vista. Felizmente que a perda de visão seria apenas de 5 %, muito menos do que era previsível.
O resultado da 2ª punção lombar chegou dias depois e não foi animador. Os valores da infeccção tinham piorado e os resultados continuavam inconclusivos. Face aos resultados comecei a ser medicada para as duas doenças. Restava uma hipótese, fazia uma cintigrafia ( ou PET ) para detectar um orgão que estivesse infectado. Se o conseguissem fazer, conseguiriam detectar qual a doença, através da biópsia ao orgão em causa. Se não conseguissem detectar nenhum orgão infectado, restava a hipótese que eu mais temia, a biópsia às meninges, ou seja, teriam de me furar os ossos do crânio e retirar uma amostra das meninges.
No dia em que recebi esta notícia chorei muito à noite na cama, agarrada ao Nuno. Pela primeira vez tive muito medo. Tinha medo que as coisas não corressem bem, medo que a biópsia tivesse consequências, medo de perder tanto do crescimento da minha filha. Tive uns dias menos bons, mas recuperei, fruto de um " encontro " com um parceiro de biombo durante a cintigrafia.
A cintigrafia consistiu em injectarem-me um líquido radioactivo, que percorreu o meu sistema sanguíneo e num aparelho tipo TAC detectavam o funcionamento de cada orgão e se os mesmos estariam ou não infectados. Felizmente por um lado e infelizmente por outro, nenhum orgão estava infectado, ou seja, ficava apenas a hipótese da biópsia às meninges. Decidiu-se adiar e esperar pelos resultados da medicação.
A medicação era fortíssima e dava-me tonturas, um cansaço extremo, crises de ansiedade umas atrás das outras e umas insónias horríveis. A pior de todas foi adormecer às 8 da manhã.
Voltei à consulta uns dias depois, desta vez só vista pelo chefe de neurologia. Recebo os resultados das análises da brucelose e outras doenças que tais que não confirmam nem desmentem a hipótese de tuberculose.
Continuo com uma esperança incrível e um humor inconjugável com o meu estado de saúde. Sempre pensei que iria chorar baba e ranho, que iria sentir " pena de mim ", que iria desmoralizar, mas não, talvez porque estive sempre rodeada de amigos, de gente que se preocupou comigo. A onda de solidariedade foi tão grande que tive vários grupos a rezarem por mim, pessoas que nunca vi, aqui na minha paróquia da área de residência e noutras. Renovei a minha fé e redescobri os verdadeiros amigos. Descobri em mim uma calma que desconhecia e uma paz imensa.
Cresci como ser humano, passei a valorizar ainda mais a família e os amigos. No fundo, posso dizer que interiormente foi uma viragem muito positiva para mim.
Deus escreve direito por linhas tortas.

8 comentários:

  1. Ai amiga, fiquei de lágrimas nos olhos.
    É uma verdadeira provação e tu estás (e vais!) a superá-la.
    Estou sempre aqui para o que for preciso, a torcer por ti, sempre!
    Beijocas

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  2. Tb estás sempre nas minhas preces....

    Beijinhos

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  3. Desculpa, não tenho vindo aqui, não fazia ideia disto tudo, sinto-me muito mal por isso.
    Por aqui torço muito para que tudo corra bem.
    Toda a força do Mundo para ti, tenho a certeza que tudo vai passar depressa.

    Muitos bjs para voces

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  4. É nestas alturas que vemos quem são os nossos verdadeiros amigos...
    O ser humano é realmente surpreendente na maneira como reage aos problemas que surgem!!!
    Da minha parte, tb torço bastante para que descubram o que realmente tens e para que fiques boa rápido!!

    Beijocas grandes

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  5. Acredita que tens estado sempre no meu pensamento.

    Beijinhos

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  6. amiga, tenho pensado tanto em ti... tanto que liguei o computador para ver se conseguia ler o teu blog.

    um beijinho muito grande, tu és uma grande mulher e vais superar esta fase menos boa.


    adoro-te

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